Os problemas da
alfabetização no Brasil têm sido amplamente discutidos por diferentes segmentos
da sociedade e por pesquisadores de várias áreas. Alguns consensos já começam a
ser delineados. Por exemplo, já se concebe, hoje, que um indivíduo alfabetizado
não é aquele que domina apenas os rudimentos da leitura/escrita, ou seja, que é
capaz de ler/escrever palavras. Espera-se, mesmo na mais tenra idade, que a
pessoa alfabetizada seja capaz de ler e escrever em diferentes situações
sociais, para que possa, então, inserir-se e participar ativamente de um mundo
letrado, frente às demandas sociais e aos avanços da tecnologia, que exigem
sujeitos cada vez mais proficientes nas práticas de linguagem diversas.
Desse modo, o
papel da escola, quando se trata do processo de alfabetização, é ensinar o
sistema de escrita e propiciar condições de desenvolvimento das capacidades de
compreensão e produção de textos orais e escritos. Isto é, desde os primeiros
anos de escolarização, espera-se que os docentes planejem situações de escrita
que, ao mesmo tempo favoreçam a aprendizagem do funcionamento da escrita
alfabética e possibilitem o acesso aos textos escritos de modo a garantir a
inserção social em diversos ambientes e tipos de interação.
O acesso a esses
diferentes ambientes e tipos de interação, por seu turno, implica mais do que
dominar a base alfabética e ter capacidade para ler e escrever textos. Implica,
sim, na ampliação do universo cultural das crianças, por meio da apropriação de
conhecimentos relativos ao mundo social e da natureza.
Não se lê e se escreve no
vazio. É preciso entender as práticas culturais, ser capaz de construir
conhecimentos e participar de modo ativo nos diferentes espaços de
interlocução, defendendo princípios e valores. Desde cedo, o acesso aos
diferentes gêneros discursivos contribui para que os estudantes possam se
perceber como sujeitos políticos possuidores de cultura, e, como tais, sejam
agentes de intervenção social, responsáveis pelas suas ações e dos que compõem
seus grupos de referência. Desse modo, o ensino da leitura, da escrita e da
oralidade precisa ser realizado de modo integrado aos diferentes componentes
curriculares: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, História, Geografia,
Matemática, Ciências.
Assim, no Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, quatro princípios centrais serão
considerados ao longo do desenvolvimento do trabalho pedagógico:
- o
Sistema de Escrita Alfabética é complexo e exige um ensino sistemático e
problematizador;
- o
desenvolvimento das capacidades de leitura e de produção de textos ocorre
durante todo o processo de escolarização, mas deve ser iniciado logo no início
da Educação Básica, garantindo acesso precoce a gêneros discursivos de
circulação social e a situações de interação em que as crianças se reconheçam
como protagonistas de suas próprias histórias;
- conhecimentos
oriundos das diferentes áreas de conhecimento podem e devem ser apropriados
pelas crianças, de modo que elas possam ouvir, falar, ler, escrever sobre temas
diversos e agir na sociedade;
- a
ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de
ensino e de aprendizagem.
Dentro
dessa visão, a alfabetização é, sem dúvida, uma das prioridades nacionais no
contexto atual, pois o professor alfabetizador tem a função de auxiliar na
formação para o bom exercício da cidadania. Para exercer sua função de forma
plena é preciso ter clareza do que ensina e como ensina. Para isso, não basta
ser um reprodutor de métodos que objetivem apenas o domínio de um código
linguístico. É preciso ter clareza sobre qual concepção de alfabetização está
subjacente à sua prática.
Referência
Brasil. Secretaria de Educação
Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela
alfabetização na idade certa : formação do professor alfabetizador : caderno de
apresentação / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria
de Apoio à Gestão Educacional. -- Brasília : MEC, SEB, 2012.